"A Dra. M.-L. Von Franz explicou o círculo (ou esfera) como um símbolo do self: ele expressa a totalidade da psique em todos os seus aspectos, incluindo o relacionamento entre o homem e a natureza. Não importa se o símbolo do círculo está presente na adoração primitiva do sol ou na religião moderna, em mitos ou em sonhos, nas mandalas desenhadas pelos monges do Tibete, nos planejamentos das cidades ou nos conceitos de esfera dos primeiros astrônomos, ele indica sempre o mais importante aspecto da vida — sua extrema e integral totalização.
Um mito indiano da criação conta que o deus Brama, erguido sobre um imenso lótus de milhares de pétalas , voltou seus olhos para os quatro pontos cardeais. Esta inspeção quádrupla, feita do círculo do lótus, era uma espécie de orientação preliminar, uma tomada de contas indispensável antes de ele começar o seu trabalho da criação.
Conta-se história semelhante a respeito de Buda. No momento do seu nascimento, uma flor de lótus nasceu da terra e ele subiu em cima dela para contemplar as 10 direções do espaço. (O lótus, neste caso, tinha oito pétalas; e Buda olhou também para o alto e para baixo, perfazendo10 direções.) Este gesto simbólico de inspeção foi a maneira mais concisa de mostrar que, desde o instante de seu nascimento, Buda foi uma personalidade única, destinada a receber luz. Sua personalidade e existência ulterior receberam o cunho da unidade.
Esta orientação espacial realizada por Brama e por Buda pode ser considerada um símbolo da necessidade de orientação psíquica do homem. As quatro funções da consciência descritas pelo Dr. Jung no capítulo inicial deste livro — o pensamento, o sentimento, a intuição e a sensação — preparam o homem para lidar com as impressões que recebe do exterior e do interior.
É através destas funções que ele compreende e assimila a sua experiência. E é ainda através delas que pode reagir. A inspeção quádrupla do universo feita por Brama simboliza a integração destas quatro funções que o homem deve alcançar. (Em arte, o círculo tem muitas vezes oito raios, exprimindo a superposição recíproca das quatro funções da consciência, que dão lugar a quatro outras funções intermediárias — por exemplo, o pensamento realçado pelo sentimento ou pela intuição, ou o sentimento inclinando-se para a sensação.)
Nas artes plásticas da Índia e do Extremo - Oriente o círculo de quatro ou de oito raios é o padrão habitual das imagens religiosas que servem de instrumento à meditação. No lamaísmo, particularmente dos tibetanos, mandalas ricamente ornamentadas representam um importante papel. Em geral elas significam o cosmos na sua relação com os poderes divinos." [...]
JUNG, Carl G. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1964.
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