Em minhas buscas na rede, encontrei um texto de Márcia Denser bastante interessante tratando do que vem a ser mediocridade; transcrição (o ‘grifo’ é meu):
O que é mediocridade?
O processo de banalização que atinge todas as atividades humanas – lazer, trabalho, estudo – promove simultaneamente a mediocrização do sujeito. Segundo um antigo dicionário, medíocre é "mediano, ordinário, insignificante, vulgar, sem mérito, aquele que está entre mau e insuficiente", definição correta mas imprecisa, mas alterando-se os dois últimos termos para “mau, porém conveniente”, o conceito se aguça. No geral, a mediocridade vem com o rótulo de humildade ou modéstia, produtos desonestíssimos mas que, infelizmente, indicam a medida da humanidade e atual pré-condição para a sobrevivência. Falando nisso, aplicando-se aqui a implacável lei darwiniana, a do “mais apto”, não sobraria ninguém na face da terra. Mas deixemos a arqueologia de lado e encaremos a coisa de frente – aliás, aquilo que um medíocre nunca faz. É sua marca registrada: no logo, baby.
A mediocridade é sempre gregária. É aquela face sem rosto desbaratinada no meio dum escritório, fábrica, supermercado, corporação, porque o medíocre só viceja em relação a alguém, de preferência seu superior imediato, que é sempre um medíocre de maior magnitude, digamos. Como são legião em nossa sociedade, os medíocres tornam ainda mais verdadeiro o ditado que vaticina: “Primeiros escolhem primeiros, mas Segundos escolhem Terceiros”.
Explica-se: um sujeito de primeira só pode cercar-se de gente tão boa ou melhor que ele próprio, logo não há porque temer a puxada de tapete. Bom, isso em tese. Já um sujeito de segunda, cuja incapacidade é supercompensada pelo mau caráter, ao atingir uma alta posição, fatalmente tomará as seguintes providências: 1) aplicará a máxima “dividir para governar”; 2) escolherá sempre aqueles chegados ao dedurismo, à puxassaquice pânica; ou ambos. Para ele, inteligência e cultura não só são artigos de somenos como atributos altamente execráveis. Um medíocre de grande envergadura tem uma capacidade ilimitada para torcer a verdade a ponto de transformá-la em mentira.
Sem contar que honestidade vira sinônimo de agressividade, sintoma de conduta patológica. Atitudes espontâneas como dizer o que pensa, assobiar, cantar, rir, chorar (mesmo que a mãe tenha morrido há dez minutos) são consideradas demonstrações de fraqueza, infantilidade e até loucura. Contudo, a mais temida de todas as hecatombes subalternas são as idéias criativas. O autor poderá ser tachado de subversivo e, em seguida, receber o bilhete azul. Por justa causa.
Medíocres são encontrados em todas as camadas sociais, etárias e signos do zodíaco. Nem Cristo os esqueceu. “Bem-vindos os pobres de espírito, deles será o reino dos céus”, aliás, devidamente corrigido por Jorge Luís Borges, bruxo de extremo bom senso, que conclui: “Já os pobres de espírito não vão para o Paraíso porque não o compreenderiam”.
Márcia Denser* in http://congressoemfoco.ig.com.br/noticia.asp?cod_canal=14&cod_publicacao=187 em 2010-03-05
Ainda lendo a Revista Veja (Ed. 2137 de quatro de novembro de 2009); a mesma em que trata do “Pequeno manual de civilidade” (lembram do post aqui?) uma entrevista com o maestro John Neschiling (A respeito de sua saída da OSESP e de como a fez orquestra mais respeitada do Brasil / p. 128 a 131) duas colocações se fazem pertinentes;
“Que tipo de autoridade um maestro tem de exercer sobre a orquestra?
Na arte, as hierarquias são tão importantes quanto no Exército. Não tem como colocar 100 pessoas tocando a mesma coisa, do jeito que cada uma quer. Tem de haver uma liderança. Reger uma orquestra é trabalho psicológico da mais alta precisão. Não é uma coisa fácil você trabalhar com 100 pessoas diferentes, todas elas sensíveis, todas elas artistas, muitas frustradas por estarem na última estante para o resto da vida. Na arte, não existe democratismo. Não se pode deixar a música na mão do coletivo, porque ele tende a mediocridade.
Os músicos não buscam a excelência por si sós?
Os músicos defendem a média. Não querem sobressair porque, permanecendo na média, estão seguros. Imagino que no jornalismo, na medicina, na publicidade seja a mesma coisa. Ao longo do tempo, a média ganha sempre.”
Daí pergunto:
“Seremos sempre média/ medíocres ou teremos coragem e verdadeira humildade de trabalharmos e sairmos da dita ‘média’?”
Uma das melhores coisas que li nos últimos tempos....de verdade...muito bom...
ResponderExcluirAbraços Lu...
Lucca.