O que ensaio, dedicação e um pouquinho de 'criatividade' podem fazer...
quarta-feira, março 31, 2010
terça-feira, março 30, 2010
Consciência Corporal
Vejamos que interessante o que diz a reportagem “O primeiro passo (por Priscilla Santos)” da revista Vida Simples ao propor a dança contemporânea não para a formação de bailarinos profissionais, mas como forma de autoconhecimento. Transcrevo trecho da reportagem, pois vale a pena entender o corpo no processo da dança.
Conhece-te a ti mesmo
Se queremos nos expressar por meio do corpo, é preciso antes conhecê-lo. Saber o que existe lá dentro, quais são as direções dos ossos, músculos e articulações, esmiuçar cada detalhe como uma criança que desmonta um brinquedo para ver como funciona. Em geral, mantemos o corpo adormecido. Somos criados dentro de certos padrões e ficamos acomodados naquilo, escreve o bailarino e coreógrafo Klauss Vianna (1928-1992), criador da técnica de consciência corporal no Brasil, no livro A Dança. Esses velhos padrões vão criando as couraças musculares, que nos impedem de explorar as potencialidades do corpo e ainda nos geram aquelas dorzinhas chatas. É o jeito torto de deitar para assistir TV ou o hábito de ficar sentado o dia todo. Assim, acabamos usando alguns músculos demais e outros de menos, criando tensões desnecessárias.
É curioso, no dia seguinte a uma aula de dança contemporânea (como as que fiz para escrever esta reportagem), sentir uma dorzinha num músculo que você nem sabia que existia, ou se dar conta de que sempre botou o esforço no lugar errado na hora de fazer um movimento simples como levantar a perna. Numa aula, o professor pode propor que você massageie seu pé (ou o do colega) enquanto explica o nome de alguns ossos, suas funções e por aí vai.
Pois a dança surge de nossos processos internos, ou seja, de como nossos músculos se movem, como os ossos se encaixam e como colocamos emoção em nossa massa. Daí a idéia de buscar a dança que existe dentro de cada um. Para isso, é preciso estar atento ao corpo, o tempo inteiro. Para Klauss Vianna, a aula de dança começa pela manhã, quando abrimos os olhos na cama. O aquecimento interno ocorre na rua, no chuveiro, no trânsito. Assim, mudar a posição do sofá ou o local de dormir dentro da própria casa são estímulos que geram conflitos e novas musculaturas em nosso cotidiano: espaços novos, musculatura nova, visão nova. E não é só levar a dança para o dia-a-dia ou vice-versa. Mais que isso: reconhecer que essa divisão não existe, pois o corpo que dança é o mesmo que corre, brinca, come, ama e sofre. Quanto mais levarmos em conta essa dimensão existencial revelada por meio do nosso corpo, quanto mais considerarmos as dúvidas e os questionamentos que nascem na relação com o mundo exterior, mais proveitoso poderá vir a ser o trabalho realizado e tanto mais rico o resultado obtido, escreve Klauss.
sexta-feira, março 26, 2010
domingo, março 21, 2010
terça-feira, março 16, 2010
MEDIOCRIDADE E A MÉDIA...
Em minhas buscas na rede, encontrei um texto de Márcia Denser bastante interessante tratando do que vem a ser mediocridade; transcrição (o ‘grifo’ é meu):
O que é mediocridade?
O processo de banalização que atinge todas as atividades humanas – lazer, trabalho, estudo – promove simultaneamente a mediocrização do sujeito. Segundo um antigo dicionário, medíocre é "mediano, ordinário, insignificante, vulgar, sem mérito, aquele que está entre mau e insuficiente", definição correta mas imprecisa, mas alterando-se os dois últimos termos para “mau, porém conveniente”, o conceito se aguça. No geral, a mediocridade vem com o rótulo de humildade ou modéstia, produtos desonestíssimos mas que, infelizmente, indicam a medida da humanidade e atual pré-condição para a sobrevivência. Falando nisso, aplicando-se aqui a implacável lei darwiniana, a do “mais apto”, não sobraria ninguém na face da terra. Mas deixemos a arqueologia de lado e encaremos a coisa de frente – aliás, aquilo que um medíocre nunca faz. É sua marca registrada: no logo, baby.
A mediocridade é sempre gregária. É aquela face sem rosto desbaratinada no meio dum escritório, fábrica, supermercado, corporação, porque o medíocre só viceja em relação a alguém, de preferência seu superior imediato, que é sempre um medíocre de maior magnitude, digamos. Como são legião em nossa sociedade, os medíocres tornam ainda mais verdadeiro o ditado que vaticina: “Primeiros escolhem primeiros, mas Segundos escolhem Terceiros”.
Explica-se: um sujeito de primeira só pode cercar-se de gente tão boa ou melhor que ele próprio, logo não há porque temer a puxada de tapete. Bom, isso em tese. Já um sujeito de segunda, cuja incapacidade é supercompensada pelo mau caráter, ao atingir uma alta posição, fatalmente tomará as seguintes providências: 1) aplicará a máxima “dividir para governar”; 2) escolherá sempre aqueles chegados ao dedurismo, à puxassaquice pânica; ou ambos. Para ele, inteligência e cultura não só são artigos de somenos como atributos altamente execráveis. Um medíocre de grande envergadura tem uma capacidade ilimitada para torcer a verdade a ponto de transformá-la em mentira.
Sem contar que honestidade vira sinônimo de agressividade, sintoma de conduta patológica. Atitudes espontâneas como dizer o que pensa, assobiar, cantar, rir, chorar (mesmo que a mãe tenha morrido há dez minutos) são consideradas demonstrações de fraqueza, infantilidade e até loucura. Contudo, a mais temida de todas as hecatombes subalternas são as idéias criativas. O autor poderá ser tachado de subversivo e, em seguida, receber o bilhete azul. Por justa causa.
Medíocres são encontrados em todas as camadas sociais, etárias e signos do zodíaco. Nem Cristo os esqueceu. “Bem-vindos os pobres de espírito, deles será o reino dos céus”, aliás, devidamente corrigido por Jorge Luís Borges, bruxo de extremo bom senso, que conclui: “Já os pobres de espírito não vão para o Paraíso porque não o compreenderiam”.
Márcia Denser* in http://congressoemfoco.ig.com.br/noticia.asp?cod_canal=14&cod_publicacao=187 em 2010-03-05
Ainda lendo a Revista Veja (Ed. 2137 de quatro de novembro de 2009); a mesma em que trata do “Pequeno manual de civilidade” (lembram do post aqui?) uma entrevista com o maestro John Neschiling (A respeito de sua saída da OSESP e de como a fez orquestra mais respeitada do Brasil / p. 128 a 131) duas colocações se fazem pertinentes;
“Que tipo de autoridade um maestro tem de exercer sobre a orquestra?
Na arte, as hierarquias são tão importantes quanto no Exército. Não tem como colocar 100 pessoas tocando a mesma coisa, do jeito que cada uma quer. Tem de haver uma liderança. Reger uma orquestra é trabalho psicológico da mais alta precisão. Não é uma coisa fácil você trabalhar com 100 pessoas diferentes, todas elas sensíveis, todas elas artistas, muitas frustradas por estarem na última estante para o resto da vida. Na arte, não existe democratismo. Não se pode deixar a música na mão do coletivo, porque ele tende a mediocridade.
Os músicos não buscam a excelência por si sós?
Os músicos defendem a média. Não querem sobressair porque, permanecendo na média, estão seguros. Imagino que no jornalismo, na medicina, na publicidade seja a mesma coisa. Ao longo do tempo, a média ganha sempre.”
Daí pergunto:
“Seremos sempre média/ medíocres ou teremos coragem e verdadeira humildade de trabalharmos e sairmos da dita ‘média’?”
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